Saturday, June 30, 2007

La Nouvelle Cuisine

Num almoço Nouvelle Cuisine cuidadosamente programático, uma mesa cuidadosamente posta, com pratos cuidadosamente decorados (empratados [sic] cuidadosamente com a devida anterioridade) estavam, cuidadosamente distribuídos, em quantidades cuidadosamente pesadas, dois jarros de sangria e um jarro de água cristalina. Foram aterrando, cuidadosamente!, as receitas: entre Pain d'epices com chèvre gratinado e vinagreta de fambroesas, a robalo e camarão braseado com ravioli de salsa ao aterrador Tataki de vaca assomava, timidamente, uma conversa, cuidadosamente gerida, por um cuidadoso (e inteligente) gourmet (também dito em Portugal, com a finura habitual da nossa língua coloquial, de CHEFE DE COZINHA).

E por um impulso destrutivo (tão naif como a mera atracção pelo desmancho da ordem) deu-me uma vontade enorme de mandar os, cuidadosamente limpos, talheres ao ar e desatar a comer alarvemente com as mãos (que por acaso estavam cuidadosamente lavadas com a devida anterioridade).


Post Sriptum - E no entanto (e sem o no..) recomendo o Movimento que é simpático, de facto.

Friday, June 29, 2007

Wednesday, June 27, 2007

O que fazer?


TÓPICO:

Estás em cima de uma deadline. O teu laptop começa a ficar indisposto com febres que ultrapassam os 50 graus de temperatura média. Espamos recorrentes. Apresenta outras indisposições não reveláveis. O que fazer?

SOLUÇÕES (marca x mental na resposta certa):



1- Arremessá-lo por uma janela abaixo aproveitando para dizimar o vizinho que sempre odiaste?

2- Arremessares-te tu por uma janela abaixo cumprido assim a promessa feita há muito?

3- Desligá-lo, deitá-lo numa mesa fria e tentar entrar em diálogo. Do tipo: Meu caro, sempre nos demos bem, faz-me lá o favor de aguentares mais 10 horas, não custa nada. Uma festinha para selar o acordo talvez não ficasse mal.

4- Parares com idiotices. Reconheceres que és uma neurótica com assomos alarmistas e que a sua febre é apenas um sintoma normal de quem trabalha. Parares de publicar posts no teu ignoto blog talvez não fosse má ideia.

1,2,3 e 4. O que fazer?


Ratzinger disse um dia que a Internet causa demência ou que é algo a evitar. Há pouco dias, creio que na Índia, alguém com poder deliberativo-executivo pensou o mesmo e restringiu com medidas duras o seu acesso. Sabendo que vivemos todos (tirando os filhos das aldeias com paroquial respeito aos seus aldeões progenitores) de site em site, de blog em blog e de ... em de ... não parece abusivo derivar a conclusão de que vivemos numa era de doidos (se Ratzinger tiver razão). Doidos muito bem instalados na vida. Doidos que não passam fome. Doidos que se vestem-se bem. Doidos em que não haverá padecimento de maleita futura que não possa ser debelado por essa Medicina Moderna implacavelmente competente (e quando não for, haverá sempre clínicas caras algures na Austria, algures nos Alpes franceses para dar, sem dor, uma morte digna às pessoas). Muito bom! Que Admiravel Mundo este!
[ja volto]

Tuesday, June 26, 2007

Um doido não sabe que é doido. Caso soubesse, deixaria de o ser (admitindo, claro, que não teria uma fantasia particular em simular a sua loucura). Mas não consigo imaginar uma conversa deste tipo entre doidos com patente clínicamente atribuída deste tipo:

- Olhe, você tem comportamentos patológicos e o seu diagnóstico é: padece de esquizofrenia. Essa bata branca que tem vestida com cordões não é uma opção estética excêntrica para fazer escola.

- Ah! (espantado). A sério?! (como, merda! esqueci-me das chaves de casa!). Amanhã sou diferente! Amanhã vou deixar de ser doido. É que não sabia, desculpe!

Convenhamos que as coisas não são assim. Não se deixa de ser doido quando se descobre que se é. Por que raio os doidos nunca sabem que o são e parecem viver numa órbita inquietantemente coerente? Sem referentes, mas absolutamente coerente.


Monday, June 25, 2007

Nó na garganta [II]

- Essa relação começa a tresandar a bolor!

- Não. Eu sei como matar os fungos. Trust me!

- E se não souber... ? - ripostou.

-Saberei - respondeu com um nó na garganta.

Friday, June 22, 2007

Títulos e Autores



Queres saber se podes jantar ou não com uma pessoa, convidá-la ou não para beber um copo, convidá-la ou não... para o que seja... faz esta experiência:

Arranja um encontro com essa pessoa em cujo itinerário-destino (onde secretamente a vais submeter a um rigoroso exame) esteja uma Livraria. Fundamental! Faz por entrar nessa Livraria com ela e deixa-a percorer os corredores.
Mantém a distância e observa como olha para os Livros (sinal 1).
Se tem ou não vontade de comentar os livros que vê (sinal 2).
[A existir sinal 2] anota mentalmente se faz comentários sobre o Título ou sobre o Autor (sinal 3)*

>> O sinal 1 é preverso.
>> O sinal 2 eliminatório.
>> O sinal 3 decisivo.*

* Das inúmeras coisas desinteressantes que os Livros têm, o Título é, sem dúvida, o mais desinteressante de todos. Primeiro porque os Títulos foram inventados pelas didácticas (quer isto dizer que são um absurdo). Segundo porque a única coisa viva num Livro são Autores (outra invenção, se bem que menos absurda, dessa família sagrada chamada Didáctica)

Thursday, June 21, 2007

Nó na garganta [I]

- E claro que vais encontrar uma quantidade de pessoas que vai julgar que o teu problema é este e este e este... A diversidade das causas bem intencionadamente imputadas é proporcional ao número de pessoas que vais encontrar. Mas não ligues! Só tu sabes do que se trata.- disse-lhe ele.

- E se não souber... - ripostou.

- Saberás - respondeu com um nó na garganta.

Wednesday, June 20, 2007

Tuesday, June 19, 2007

A Inteligência de um Ser Humano é mensurável até ao ponto-limite que é capaz de falar lucidamente sobre si próprio. O Conhece-te a ti mesmo socrático é aqui, com acentuados e reconhecidos desvios, mais do que propositado.

Monday, June 18, 2007

Insight Maquiaveliano



Minorar o alvo é uma das formas de o tornar dominável. Menos grave seria se fosse apenas uma das formas de o combater. Na Guerra (quase!) tudo vale.

Poderá ser replicado que a espera é uma desculpa trivial para disfrutar os inúmeros prazeres da passividade contemplativa. Erro. Se Quem Espera Sempre Alcança, não sei (mas já agora puxa uma cadeira, não vá o D. tecê-las ...)

Mas sei uma coisa (e auto-decreto): não há nenhuma espera passiva. Como dizia um amigo meu há tempos, que se sentava numa esplanada demoradamente horas a fio à procura do fio condutor dos seus argumentos para redigir um texto: eu estou a trabalhar! - dizia. Sorriam os "activos" incrédulos e invejosos e estoirados ... e sem cheta! Mas ele tinha razão.

[I]

Storm Thorgerson



[+] Sente-se e diga-me qual acha ser a sua perturbação.
[-] A sensação de que me estão a observar.
[+] Desculpe. Perguntei-lhe qual acha que é a sua perturbação. Não lhe pedi uma ajustada descrição factual. Outra vez?

Friday, June 15, 2007

Fazer por entender aquilo que não se entende é como saber o que vestir. Isto significa que qualquer processo de entendimento tem de começar por simular uma, chamemos-lhe, "convicção" (é por isso que não gosto do Carnaval). Mas, lamento dizer, terás mesmo de vesti-la, pôr luvas de borracha e ter ... _ _ s _ _ ! *
* A última delas é a mais difícil o que não quer dizer que as restantes não o sejam.

Wednesday, June 13, 2007

O conceito Travel Lodging sintetiza todas as minhas aspirações intelectuais. E a explicação seria a consumação temática das minhas aspirações. E explica ainda 3 coisas:

1- o facto de odiar o luxo

2- o facto de não dispensar o conforto (e a ordem)

3- o facto de ter pouca massa (e temer um dia tê-la em abundância) *
* isto ensinou-me o meu Querido Pai um dia
Quem nunca viveu numa terra mono-social nunca perceberá um dia os encantos da diversidade humana. Verdes, amarelos, pretos, castanhos ... que maravilha! E se bem que se procure o Silêncio, ora bolas! o que é demais é ENSURDECEDOR!

PS- Obrigada Coronalete! Sem ti, teria demorado muito, muito, muito mais tempo para perceber isso. Vai-te foder, já agora!

Tuesday, June 12, 2007

Quando duas pessoas pretendem em comum as mesmas coisas mas possuem diferendos significativos relativamente ao rumo a trilhar para as obter, não são Aliados. Pior: nunca o serão. São literalmente inimigos. Não te perguntes se preferes um inimigo destes para jantar ou um inimigo convencional. A resposta (por muito que o negues) será a menos óbvia.

Monday, June 11, 2007

Amor com amor se paga!


- Mas por que é que não te pões a escrever?!

- Mas por que é que não te pões a andar!
- Mas tu não gostas dela?
- Gosto. Mas é como a Vodka. Enjoa.
- Como o pretenso sucesso. Entendo.


Vodka Absolut Blue

Sunday, June 10, 2007

Não chamemos à indecisão uma maligna impotência deliberativa. Chamemo-lhe apenas uma vontade muito pouca disposta a renunciar a certas coisas. Que são mesmo boas. Ponto.

In the return...

Poderá ter parecido (ou eventualmente não ...) que estaria a falar disto. Certo? Nem disto. Certo?
O sucesso é constitutivamente enjoativo? Não. O sucesso comunitariamente reconhecido e, em muitos casos, indecentemente reconhecido não é enjoativo. É repugnante.

O caso Roger Federer não é um caso indecentemente reconhecido. Não é enjoativo... por vezes. Mas é um caso sem acidentes. Desinteressante, por isso.


Parabéns Nadal!

Roland Garros 2007

Hoje sou Nadal. O sucesso Federer, compulsivo e regular, é enjoativo.

Thursday, June 7, 2007

A História recente desta terra é muito curiosa. Parecemos voltar aos picarescos episódios do picaresco período declinante do reinado monárquico da 4ª geração. De um PM que de televisivos discursos à nação portuguesa ladeado simbolicamente pela fotografia do papa (do lado direito) e pela fotografia dos eloquentes cravos vermelhos (do lado esquerdo) passámos, por portas e travessas (mais por umas do que outras diga-se) para um grisalho PM que da política tem uma visão estritamente contabilística para obtenção do gáudio aprovatório da UE: tira-se daqui, põe-se ali, tira-se daqui, põe-se ali... ora bolas! assim também eu!! O problema não é o seu carácter agrisalhado (nada contra, muito pelo contrário), o problema é que fazer política, se bem entendo, não é isto. E se estou errada, eu quero ser política também!!

Volta e meia lá tem uns arrebates ideológicos (melhor que não os tivesse, Valha-nos Deus) mas é pura ilusão: depois de tanto corte na despesa pública resolve mimar (para ter alguma credibilidade junto dos descontentes contribuintes) os sectores menos economicamente vantajosos para a sociedade: as crianças e os velhos. Entenda-se, os Passivos. Tem também períodos de remorso pelos Activos. Entenda-se, os filhos dos mecânicos (que não puderam estudar, pobres!) e as domésticas que engravidaram cedo (e que não puderam estudar, pobres!)
Deverei continuar?