Impecavelmente vestida, entrou com o seu fato saia-casaco castanho, a sua mala no punho com duas luvas de pele, adequadamente distribuídas, com o seu cabelo previamente arranjado (e a cair pelas golas do casaco) no... Minipreço para fazer as suas compras. Sim, Minipreço. Olhava de soslaio pedante, com as antenas bem focadas (as que permitiam as suas diopetrias) para toda a maralha emporcada que estava no ... Minipreço para se certificar que era bem notada. Por um feliz acaso, fui parar atrás de si na bicha de pagamento. Com um ar blazé (como quem diz: a minha empregada não veio para me fazer isto hoje!) lá foi depositando, com custo, as suas compras: massas, chás e tudo o que não engorda (que nos temos de pôr em forma, é a vida! não é assim).
Lição: quando a Vaidade não envelhece, apesar do corpo nunca o perdoar, o espetáculo é este mesmo. Não há problema nenhum! A Elegância é sempre bem vinda ... mas e quanto tem debaixo do colchão forrado com lençol anti-incontinência? E os herdeiros onde estão? A penar de frio algures numa urbanização pseudo-cara, pseudo-fina, pseudo-elegante na periferia da cidade cheios de bebes ao colo e a preparar a janta (que hoje a sogra vai ser convidada, limpem bem os pés! não digam palavrões!). Quanto estamos a pagar por aquela Vaidade que não envelheceu apesar do corpo estar há muito a bradar: porra!!! deixa-me morrer!!?? Isto não é outra coisa senão o Fenómeno da Mimetização Estética dos Tempos Actuais: elas querem ser tão bonitas como vão vendo na rua de caminho para o Minipreço quando a ucraniana não vem e, de facto, não percebo picha recatada - estamos, homens, mulheres, muito mais bonitos e bonitas. O espelho não rejuvenesce: alerta, minhas jóias! Por isso (e o motivo deste post é esse): me intristece sexagenariamente o VIVER PARA QUÊ? de JPC Expr./ult. É que me tenho feito a mesmíssima pergunta nos últimos tempos recentes. Cheirará muito mal a mijo o colchão da velha?
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